Um dia inusitado na vida de uma bancária (e algumas reflexões sobre nossos direitos)

Tudo começou com um dia estranho…

Camila chegou no banco com a sensação de que algo estava errado. O calor, o cheiro do cigarro, o gerente com bafo de uísque… “Que absurdo”, pensou, mas ninguém parecia estranhar.

Procurou Luísa, mas soube que ela tinha sido demitida no dia anterior. Estava grávida. “Mulher casada deve cuidar do lar”, disse o colega ao lado, impassível. O coração de Camila apertou.

Na hora do almoço, viu Carlinhos, escondendo a fome. Dividiu sua marmita com ele. “O salário não dá nem para o trem”, ele confessou, envergonhado. Camila nem sabia direito em que cargo trabalhava. Só sabia que trabalhava dez horas por dia – cinco aos sábados –  e ganhava um salário de miséria.

De repente, um tumulto. Policiais armados invadiram o banco e foram lá no fundo. O som era de pancadaria. Voltaram trazendo alguns funcionários machucados e algemados. Ela perguntou, atônita: “O que aconteceu?”. O policial a encarou e gritou: “Quer apanhar também?”. E foi embora. Só então notou que não tinha mais porta giratória na agência.

Mais tarde, ao perguntar aos outros, soube que seus colegas tinham solicitado uma reunião para pedir aumento e, talvez, um vale marmita. O gerente encrespou e chamou a polícia.

Tudo parecia estranho. O lugar, o calor, a confusão… Alguém no fundo não parava de gritar: “Mãe! Mãe!!!”.

Camila acordou, suando, na sua cama. O despertador marcava 6:45. Seu filho puxava seu braço.

Respirou um pouco aliviada, mas a angústia do sonho ainda latejava: Afinal, aquele pesadelo mostrava o banco do passado ou do futuro?

Direitos não são eterno

Essa foi a história de Camila, uma bancária comum, num dia comum que pode ter acontecido em 1925. Ou teria sido em 2035?

No início do século XX, os direitos de qualquer trabalhador eram muito escassos. Para as trabalhadoras era pior ainda. Coisas que hoje parecem óbvias, como férias, 13º, FGTS, licença maternidade, PLR, vale alimentação ou refeição, não existiam. As condições de trabalho no banco eram tão ruins como na maioria dos lugares.

O que mudou?

Como nascem os direitos?

Não foram os empresários que ficaram mais bonzinhos e passaram a distribuir benefícios. Foram os empregados e empregadas que se uniram e lutaram por melhores salários e condições de trabalho.

Para se ter uma ideia, as jornadas de trabalho dos bancários já foram superiores a 44 horas semanais. Em 1933, conquistamos 36 horas semanais, em 1952, 33 horas e, apenas, em 1969 chegamos a 30 horas semanais.

Alguns direitos são garantidos na negociação com os bancos, outros por lei. Por trás de cada direito, há greves, negociações e até vidas perdidas na luta por justiça.

Ou seja, cada direito que você desfruta hoje é resultado do trabalho de quem veio antes de você.

Como morrem os direitos?

Sim. Direitos nascem e morrem. E nenhum deles está garantido. A cada negociação, tudo é colocado na mesa.

Neste momento, por exemplo, tramita no congresso um projeto de lei para autorizar os bancos a abrir nos sábados e nos domingos.

Ou seja, dependendo de quem estiver no poder, no governo federal ou no parlamento, nossos direitos podem ser retirados, como aconteceu com a reforma trabalhista do Temer.

O que fazer?

Tem gente que torce o nariz para o mês do trabalhador, para o sindicato. Talvez achem que o esforço individual possa garantir alguma coisa para quem trabalha numa empresa ou num banco. Talvez acreditem que o banco vai abrir mão, gratuitamente, dos seus lucros, para entregar aos funcionários. Talvez acreditem que tanto faz.

Mas, se você parar pra pensar, as coisas não são bem assim. As negociações são cada vez mais duras, por isso, nossa união se faz cada vez mais necessária. União da categoria bancária e também entre todos os trabalhadores. 

Conquistamos muitos direitos, mas eu lhe pergunto: você está satisfeito(a)? Nós não estamos, porque sabemos que ainda tem muito para melhorar!

A história de Camila: poderia ter acontecido há 100 anos: num mundo onde não existia sindicato, convenção coletiva, direito de greve. Mas também poderá acontecer num futuro próximo, pois, como vimos, nenhum direito é garantido. 

Cabe a nós, hoje, entendermos qual presente e qual futuro queremos construir.

 

Extraído do Jornal dos Bancários de Jundiaí e Região – Edição 617 – Abril e Maio de 2025.

 

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