NOSSA CAIXA: Artigo de Neide Fonseca

ARTIGO: Nossa Caixa - É mais que um banco, é o nosso banco


Por Neide Aparecida Fonseca*

Eram 10 hs do dia 22 de maio - feriado nacional, quando tocou meu celular. Atendo. Do outro lado da linha uma pessoa em prantos me perguntava: e agora?

Demorei em entender do que se tratava, até que ouvi a frase “Nossa Caixa foi vendida e agora?”.

Em um desabafo desesperado a pessoa do outro lado da linha começou a contar-me sua história de vida.Dizia ela:

“Entrei no Banco Nossa Caixa quando ele ainda se chamava Caixa Econômica do Estado de São Paulo S.A. Juntas, a Caixa Econômica e eu fomos construindo nossa história. Enquanto eu me transformava de uma jovem para uma mulher adulta, cheia de responsabilidades, o Banco também se transformava, em 1990 transformou-se em um banco múltiplo e passou a chamar-se Nossa Caixa-Nosso Banco S.A, equiparando-se às demais empresas bancárias.

O ano de 2001 trouxe grandes mudanças que haveriam de marcar nossas vidas dali em diante. Enquanto eu realizava o meu sonho de casar, na Nossa Caixa tinha inicio a era dos tucanos. Nem no pior dos pesadelos poderia imaginar o que esse partido político faria na Nossa Caixa, e, portanto, em nossas vidas.

Neste ano mudei de estado civil: casei. A Nossa Caixa sofria mais uma mudança estrutural e passou a chamar-se Banco Nossa Caixa S.A. Abriu agências fora do Estado de São Paulo e, além disso, a Assembléia Legislativa aprovou a alienação de quase 50% do capital do banco e a criação de sete subsidiarias, através do PED - Programa Estadual de Desestatização.

O casamento foi bom, porém, a idéia de criarem subsidiárias era péssima para todos nós. O alarme de que as coisas não iam bem se intensificou, mas, ainda assim, era difícil acreditar que a Caixa Econômica, a Nossa Caixa, o Banco Nossa Caixa fosse um dia acabar.

O sindicato bem que nos avisava, ao mesmo tempo que nos convocava para lutar pela garantia da empresa como banco público, e em agosto de 2002, através de liminar, conseguiu impedir a realização do leilão da Nossa Caixa Cartão que daria o start na privatização.

Daí em diante o fantasma da privatização passou a ser uma constante em nossas vidas. Em 2003 o banco constituiu um grupo diretivo para avaliar o modelo de reorganização societária e abertura de capital social. E em 2005, enquanto meu corpo se transformava, com a chegada de meu primeiro filho, o Banco Nossa Caixa, concretizava a abertura de seu capital.

Nesse ano, cercado de irregularidades, o governo tucano volta ao ataque e intensifica no banco o processo de privatização mais sofisticado que já se teve conhecimento. O banco vende para a Mapfre a Nossa Caixa Seguros e Previdência.

Em 2006/2007, novas investidas para enfraquecer o nosso banco. quem não se lembra do escândalo da folha de pagamento que por direito era nossa e o governador manda pagar mais de dois bilhões de reais? Enquanto isso os funcionários estavam dando o 'sangue' para manter o banco, fidelizar clientes, atingir metas, etc., afinal, o Banco Nossa Caixa era mais que um banco era o nosso banco”.

Já um pouco mais calma pelo desabafo, a pessoa falou: “Agora eu sei, é verdade: os tucanos fazem mal à saúde dos 16 mil funcionários do banco e para o povo em geral. Mentem descaradamente. José Serra, há pouco menos de um mês, falou que não havia a menor possibilidade de vender o banco, ao contrário, a intenção era fortalecê-lo. E hoje eu acordo com a notícia de que o Banco do Brasil comprou o Banco Nossa Caixa”.

“Tenho de reconhecer” - dizia a voz do outro lado da linha - “não acreditava quando o sindicato falava o que poderia acontecer. E agora o que fazer? Por que não nos organizamos antes?”.

A mim, dirigente sindical e funcionária do banco há 32 anos, após 23 telefonemas de funcionários do banco para meu celular no final de semana prolongado, coube o papel de racionalizar e buscar fazer do limão uma limonada. Por isso, agora publicamente falo o que falei às pessoas que me contataram:

Companheiro, companheira, não restam dúvidas de que o PSDB é nefasto e desde o princípio tinham como meta desfazer-se do Banco Nossa Caixa.

Como privatizar não é mais interessante politicamente para os tucanos, que perderam a última eleição presidencial, buscaram-se outros caminhos.

Mas o funcionalismo não pode adotar a postura de avestruz. A hora é agora. Precisamos nos mobilizar. Esse é um momento de exercitar a solidariedade de classe.

Podemos e temos o direito de chorar. Afinal são muitos anos de nossas vidas dedicados a fazer da Nossa Caixa o banco do Estado de São Paulo, servindo a população de forma mais personalizada e humanizada. Por isso, choremos, mas ao mesmo tempo vamos nos mobilizar.

Não temos que nos perguntar qual é o melhor banco para comprar a Nossa Caixa. Nem mesmo acreditar que a direção do Banco do Brasil manterá empregos e direitos, caso seja concretizada a compra do banco Nossa Caixa, sem que haja mobilização de nossa parte.

O melhor agora é brigar pela garantia de emprego; pelo caráter público do banco Nossa Caixa, para que tenha capacidade de enfrentar o conglomerado dos bancos privados; brigar pela garantia de nossos direitos que afinal foram conquistados com muita garra e luta, a exemplo do nosso PCS - Plano de Cargos e Salários, que é superior ao do Banco do Brasil, o anuênio, a Gratificação variável, entre outros direitos.

Não vamos nos entregar. A organização, mobilização, o enfrentamento são os únicos caminhos que poderemos caminhar daqui em diante.

Não esmoreçamos, o bom combate deve ser feito!

*Neide Aparecida Fonseca é Diretora Contraf CUT

Fonte: Contraf-CUT

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