Um dos fatores que está emperrando a saída do caos econômico-financeiro é a escassez de lideranças inspiradoras. São os momentos de crise que fazem suscitar lideres carismáticos que fornecem foco e senso de direção. O bom líder é aquele que capta os anseios profundos do momento, sabe dar-lhe uma expressão, criar-lhe uma metáfora e sobretudo sabe suscitar entusiasmo e energias para realizar coisas que a muitos pareceriam impossíveis. Mais que tudo, o líder deve servir a uma causa que é maior que ele, é de todo um povo e agora, de toda a humanidade. Por isso, o líder não pode ser vítima dos interesses de grupos. O bom líder está continuamente desafiando a opinião pública para rejeitar soluções maquiadas e recusar saidas convencionais que só tranqüilizam mas não transformam o caos em criativo e generativo.
O encontro dos G-20 em 2 de abril em Londres superou as espectativas, pois elaborou-se um consenso global que pode ser eficaz no resgate do equilíbrio perdido. Barack Obama e Lula despontaram como líderes inspiradores. Lula, lembrando a pobreza no mundo e Obama insistindo que o resgate deve ser verde, quer dizer, não pode mais ser feito à custa da devastação da natureza como ocorria até agora.
O Presidente Lula se tem mostrado um líder corajoso em afirmar: esta crise foi provocada por homens brancos, de olhos azuis que presidiam bancos e instituições que ditavam normas para os outros mas eles mesmos não as seguiam. Hoje estão desmoralizados porque suas idéias eram truque baratos. Eles possuiam uma ideologia imperial de dominação do mundo.
Mauro Santayana, o príncipe dos analistas políticos brasileiros, nos revelou recentemente num artigo do Jornal do Brasil(26/03) o plano norteamericano de dominação do mundo que ficara oculto por mais de quarenta anos. Dizem os documentos agora revelados: “a soberania supranacional de uma elite intelectual e de banqueiros é seguramente preferível à autodeterminação nacional praticada nos séculos passados”. Em nome desta propósito imperial fizeram-se intervenções econômicas, políticas, culturais e militares em quase todas as partes do mundo. É a razão de os EUA manterem 700 bases militares pelo mundo afora com 500 mil solados servindo no exterior. É o espírito de Davos, onde os senhores do mundo se reúnem anualmente não para pensar os problemas da Terra, dos pobres, das mulheres, da fome, mas das moedas, dos mercados, do crescimento e dos próprios interesses. É o mais crasso materialismo. Este espírito montado na falsa liderança, na mentira, na arrogância e na violência, agora ruiu com o sistema que o sustentava. Obama mostra clara consciência deste fato. Lula é um dos poucos líderes mundiais que teve a coragem de dizer as verdades diante do Primeiro Ministro da Inglaterra, G. Brown, que nos visitou em março. Só espíritos medíocres que possuem dentro de si ainda o colonizador e que incondicionalmente se alinham ao poder dominante, fizeram criticas ao Presidente como se sua fala fosse expressão de racismo. Não entenderam a metáfora. Mas traíram o que escondem: seu submetimento à potência mais forte. Mas chegará o dia em que o espírito de Porto Alegre, altermundista, generoso, amante da vida e da Terra vai ver o começo da realização de seu sonho. A liderança inspiradora de Lula, de Evo Morales, de Fernando Lugo, de Rafael Correa e de Barack Obama fará com que as potencialidades do novo, arrancadas do aceano infinito da Energia de fundo que sustenta o inteiro universo e cada ser, se tornem realidade. A humanidade a Terra o merecem. Só assim elas continuarão a ter um futuro benaventurado. Por Leonardo Boff, autor de “A civilização planetária”, editora Sextante, Rio. |