De olho no avanço da população de baixa renda para a classe média, os bancos “investem” para receber uma massa de investidores despreparados para lidar com o universo financeiro.
Um batalhão de consumidores reunidos na classe D, turbinado por crescimento econômico consistente e vigorosa oferta de trabalho, tem poder de compra suficiente para sancionar gastos de R$ 380 bilhões em bens e serviços apenas em 2010 - cifra que vai superar a soma do consumo das classes B e C, calcula o Bradesco.
A chegada desse batalhão atordoa economistas preocupados com demanda e inflação, alegra o comércio e anima os bancos.
Na última década, mostra o Fundo Garantidor de Crédito, dobrou o número de aplicadores de até R$ 5 mil no mercado brasileiro. No final de 2009, cerca de 136 milhões de clientes tinham algum dinheiro no “colchão”.
Cadernetas de poupança, títulos de capitalização e títulos bancários estão no foco do movimento “formiguinha”, incentivador da mobilização de grandes bancos na formatação de produtos, treinamento de mão de obra e educação financeira.
Os bancos correm para mapear a nova clientela por constatar que valores e comportamentos que pautam o relacionamento com clientes de maior porte ou renda, nem sempre se aplicam aos clientes emergentes.
O Bradesco atende o segmento da baixa renda há dez anos. O Banco do Brasil atua fortemente há três anos. A Caixa oferece produtos a esse público desde 2003, ampliando sua presença nesse mercado a partir de 2006.
Uma pesquisa do Data Popular para a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) dá dicas para lidar com esse novo cliente.
Briga de casal, cano entupido e pneu furado, que tiram a paciência de qualquer um, podem implodir o orçamento de milhões de brasileiros, levando à inadimplência, mostra a pesquisa.
Lazer e imprevistos não são racionalizados e, por isso, não são computados no orçamento doméstico que pode ser abalado por eventos corriqueiros.
Entre os “grandes” imprevistos que podem desequilibrar os clientes da baixa renda estão uma gravidez inesperada, a morte de um familiar, uma doença ou uma separação. Entre os “menores” estão pneu furado, assalto ou um convite inesperado para um aniversário.
O Data Popular avisa que dinheiro, para esse segmento de cliente, é um meio e não um fim. Não há preocupação em construir patrimônio financeiro, mas em garantir bem-estar para a família e para os amigos.
A pesquisa alerta que o consumidor acredita que sua vida melhorou e que vai continuar melhorando. Portanto, um programa de educação financeira não pode caminhar na direção contrária a este otimismo. O mercado de trabalho forte incentiva os bancos a acolher os aplicadores emergentes. Em contraponto, o desemprego e a informalidade servem de alerta para riscos de inadimplência.
Fonte: Valor Econômico