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Entrevista: Qual o impacto dos incêndios no Pantanal e na Amazônia? Até onde o fogo tem sido decorrente do clima e da ação humana?

O engenheiro químico e cientista ambiental, Flávio Gramolelli Júnior, explica como chegamos a esse ponto e o que seria ideal e urgente para conter esse processo. 

Por que estamos tendo incêndios dessa grandeza. Até onde o fogo é impacto do clima e impacto humano?

É um conjunto dos dois fatores. Nas regiões da Amazônia e Pantanal estamos tendo problemas de seca. E, impressionantemente, no Pantanal, que é um pântano, uma área bastante úmida, está apresentando alto índice de seca.

É um indicativo de que pode estar ocorrendo o que desde a década de 70 é chamado de ‘mudanças climáticas globais’, que já foi discutida na primeira reunião mundial do meio ambiente em 1972 e que foi reforçada em outros encontros, como a assinatura do protocolo de Montreal que previa a redução dos gases freons para conter o aumento do buraco da camada de ozônio, depois tivemos a Eco 92 e em 96, o protocolo de Kyoto, sobre os gases estufa. Enfim, existem relatórios mundiais que apontam para as mudanças climáticas.

E parece que o aumento da temperatura média do planeta, que tem relação com o efeito estufa, está trazendo dois aspectos que levam aos extremos climáticos. As temperaturas estão muito mais quentes e também muito mais frias. E, claro, também temos o impacto humano.

Quais os prejuízos para a biodiversidade do Pantanal e da Amazônia, já que o fogo interrompe vários ciclos da fauna e da flora?

Estamos perdendo fauna e flora com essa quantidade de incêndios. Os animais que sobreviveram às queimadas, não encontram comida. O ciclo acaba sendo totalmente impactado. E na flora nem temos dimensão do quanto perdemos. De fato temos uma perda realmente significativa.

Quanto tempo será preciso para a natureza se recomponha nesses locais?

Se deixarmos a natureza em paz e não houver mais incêndios, de cinco a dez anos, podemos ver o início de uma recuperação por conta dos estágios sucessionais, no cerrado e na floresta amazônica.

Mas o problema é que sabemos que todo ano pega fogo. E infelizmente estamos com um governo que incentiva isso, com um ministro de Meio Ambiente (Ricardo Salles) condenado por ter alterado os mapas ambientais em são Paulo para beneficiar mineradoras. E ele está mesmo ‘’passando a boiada’’, como prometeu em reunião ministerial.

O que seria ideal e urgente fazer para tentar reverter minimamente esses prejuízos?

O que seria urgente é ter um combate efetivo contra tudo isso. Mas o governo federal não se disponibiliza. Pelo contrário. Os recursos financeiros utilizados para o combate ao incêndio foi ínfimo. Temos relatos de fiscais do Ibama que estão sendo afastados e ‘’amordaçados’’. Impedidos de exercer a fiscalização.

em tempos sombrios. Estou há 30 anos batalhando nessa área. Sempre tivemos embates com o governo federal. Mas tivemos pressão da sociedade, podendo discutir políticas públicas, trabalhando no Conama, o Conselho Nacional de Meio Ambiente, que foi desmontado pelo governo Bolsonaro e sabemos o porquê. Primeiro queimaram a Amazônia, queimaram o Pantanal e agora cancelaram a proteção aos mangues e restingas. Então, creio, que só mudando o governo com pessoas que tenham de fato consciência da importância do meio ambiente. E que entendam que ‘’é possível ganhar dinheiro com o meio ambiente e não contra o meio ambiente’’. 

Flávio Gramolelli Junior é engenheiro químico (UFRJ), pós-graduado em Ciências Ambientais (USF) e em em Gestão e Controle Ambiental (USP, 1996) e mestrado em Engenharia Agrícola (Unicamp).

Especial para o #JornaldosBancários

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