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Caixa quer reerguer Banco PanAmericano para depois vendê-lo

Valor Econômico
Fernando Travaglini 

Com o PanAmericano saneado, o principal objetivo da Caixa Econômica Federal, que presidirá o novo conselho de administração, será restabelecer a credibilidade do banco para que a fatia que pertence ao Grupo Silvio Santos esteja pronta para ser vendida pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) em até quatro meses. A Caixa acredita que esse prazo seja suficiente para colocar o banco “rodando de novo”, segundo fonte ouvida pelo Valor.

A Caixa chegou a pensar em desfazer o negócio com o PanAmericano entre meses de setembro e novembro, quando foi informada de que havia problemas no balanço da instituição. Em julho, o Banco Central (BC) fez uma manifestação favorável à entrada da Caixa no PanAmericano, mas ainda faltava a formalização do negócio por parte das duas instituições, como o acordo de acionistas (colocação de uma cláusula para que a Caixa fizesse parte do grupo de controle) e a troca de ações. Isso feito, a Caixa aguardava apenas a autorização final do BC quando, em setembro, foi informada pela própria autoridade monetária dos problemas no balanço, mas sem nenhum detalhe.

Sem muita informação sobre o que poderia acontecer com o PanAmericano, a Caixa já estava com tudo engatilhado para entrar na Justiça pedindo o cancelamento do negócio. Aguardava uma posição formal sobre o problema, que veio apenas no dia 4 de novembro, quando o BC voltou a chamar a Caixa para assinatura de termo de anuência. Foi então que tomou conhecimento da extensão do problema, já com toda a operação de salvamento definida, segundo uma pessoa a par do negócio.

A Caixa acredita que tudo está resolvido, mas, caso haja mais perdas escondidas, a instituição pretende entrar na Justiça baseada em uma cláusula no contrato de compra e venda que dá ao banco público o direito de ser restituído em até metade do valor do pagamento feito. Isso dá margem da ordem de R$ 400 milhões, caso aparece ainda alguma nova situação de perda.

Os empréstimos continuam sendo concedidos pelo PanAmericano e a carteira já voltou a crescer. A captação caminha para se tornar positiva novamente, após fortes saques. No primeiro dia após o anúncio dos problemas no balanço da instituição, as retiradas de aplicações como Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) superaram centenas de milhares de reais, em meio às dúvidas sobre a real situação do banco. Agora, com o caso um pouco mais esclarecido, as retiradas diminuíram e começam a retomar o fluxo normal. Com o banco operando normalmente, a Caixa acredita que não faltará oferta pela participação do Grupo Silvio Santos, até pelo peso de uma parceria com a própria instituição federal. Somente à Caixa, sete bancos de investimentos se ofereceram para intermediar o negócio, disse essa mesma fonte.

A Caixa não pensa em ampliar a participação no capital do banco, hoje de 36% do total, sendo 49% do capital votante, sob pena de estatizar o PanAmericano e perder a agilidade tanto de contratação quanto de investimento. O FGC também não quer ficar à frente do PanAmericano por muito tempo, já que seu negócio não é administrar banco. Quem definirá o perfil do sócio será o novo Conselho de Administração do PanAmericano, que será comandado pela presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, e tomará posse no dia 26 de novembro, quando acontece uma reunião extraordinária. Evidentemente, o novo acionista deverá estar alinhado com a estratégia da Caixa, de crescimento e aproximação com o cliente.

O banco público deve reforçar o trabalho interno no PanAmericano. Indicou cinco diretores, todos de nível de superintendência, para os departamentos de crédito, rede, cartões, risco e financeiro, considerados os mais importantes do ponto de vista operacional. Os outros três nomes que compõem a diretoria foram levados pelo FGC. “O controlador não indica mais nada”, diz a mesma fonte. A Caixa sempre deixou claro que fez a parceria com o PanAmericano porque acreditava no negócio e nas sinergias que poderiam sair do acordo. Mesmo depois dos problemas, a instituição se mantém otimista e acredita que o banco está até “melhor do que estava antes, com R$ 3 bilhões em caixa, sem os problemas no balanço e com uma governança corporativa mais sólida”.

A PWC foi contratada para fazer uma auditoria interna e identificar se ainda há problemas. A Caixa deve entrar ainda com interpelação extrajudicial contra a KPMG e o Banco Fator, empresas contratadas para avaliar o Panamericano no processo de compra de participação. Mas a própria Caixa entende que nenhuma das duas teria obrigação de fazer a chamada “circularização das cessões de carteira” (checagem das informações com os bancos que compraram essas operações), que seria necessária para pegar o rombo nas contas do PanAmericano.

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