A crise financeira e a greve dos bancários.
Por Paulo Eduardo Malerba (Diretor regional da FETEC-CUT-SP e funcionário do Banco do Brasil)
A globalização da economia de mercado também permite a globalização das crises deste sistema. Durante as últimas décadas ocorreu um processo de desregulamentação econômica, liberalização das finanças e crescimento geométrico do capital financeiro. Na contrapartida, aumentaram situações de precarização de trabalho, subempregos, parcializações de jornada, terceirizações de atividades fins, etc. Estas medidas sempre objetivaram facilitar o processo gerador da acumulação do capital.
Acompanhamos o descolamento entre o capital financeiro e as formas de geração efetiva de valor (produção industrial, serviços, agricultura, entre outros). O mercado financeiro, baseado em ações, títulos, derivativos, etc, perdeu contato com a produção de mercadorias. Isto significa que temos uma bolha de trilhões de dólares circulando pelas fronteiras livres do mercado internacional diariamente sem que tenhamos produção compatível com esta soma. Neste quadro, milhares de bancos, empresários, investidores e especuladores lucraram vultosas quantias. Entretanto, neste momento, deparam-se com uma crise no sistema financeiro internacional, gerada pelas próprias contradições desta acumulação. A partir da crise das hipotecas imobiliárias dos bancos estadunidenses, temos um quadro de incerteza que produz contração da liquidez no sistema financeiro e acentuam-se os movimentos especulativos do capital. Estes mesmos que lucraram vultosas quantias, agora pedem ajuda ao Estado, a fim de dividir seus prejuízos com a sociedade.
Muitos gestores de bancos tentaram desencorajar o movimento dos bancários, suscitando palavras terroristas e buscando impor o medo de uma grande recessão, com muito desemprego, para impedir que os bancários cobrassem seus direitos. No entanto, no Brasil, os bancos encontram-se sólidos, capitalizados e favorecidos pelas altas taxas de juros, lucrando com títulos da dívida pública e com os enormes spreads, ou seja, estes gestores queriam apenas desestabilizar o movimento e criar uma situação favorável aos bancos.
Notam-se os próprios limites do sistema, que privilegia a especulação financeira em detrimento do setor produtivo. Este é um momento apropriado para buscar mudanças econômicas, sociais e políticas. Neste sentido, apesar das grandes dificuldades geradas pelo assédio dos bancos, pela maioria da justiça que representa, em grande medida, os interesses do poder econômico e da truculência da polícia, alinhada a estratégia dos bancos, os bancários não se intimidaram: foram às ruas em todo país cobrar mais salário, maior distribuição dos lucros, mais contratações e melhores condições de trabalho. Em Jundiaí fizemos parte deste movimento, várias agências fecharam ou funcionaram parcialmente e ajudamos a fortalecer a greve nacional.
Isto é legítimo, pois os bancários são trabalhadores que não devem arcar com a ganância e a lógica destrutiva do capital financeiro, que gerou mais esta crise e continuará criando crises cada vez maiores. Quem apostou na mão invisível do mercado e na desregulamentação econômica, teve no Estado a sua salvação, prova de que o discurso liberal não resiste às suas próprias contradições.