Dia da Consciência Negra: Lutar contra o racismo e por justiça no mundo do trabalho

O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é um marco histórico que reconhece oficialmente séculos de resistência do povo negro contra o racismo estrutural no Brasil. A data, que foi oficializada em 2011 pela então presidente Dilma Rousseff, e que agora é celebrada como feriado nacional, homenageia a memória de Zumbi dos Palmares e Dandara dos Palmares. Líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi se tornou um símbolo de resistência e a data de sua morte passou a ser uma referência central na luta antirracista no calendário brasileiro.

O 20 de novembro é um momento fundamental para a celebração e, principalmente, para a conscientização sobre a força, a resistência e o sofrimento que o povo negro vivenciou no Brasil desde a colonização. Esta data também é fundamental para debater a importância e os impactos políticos da cultura africana no desenvolvimento da identidade cultural brasileira, influenciando áreas como música, política, religião e gastronomia. A data serve para conscientizar a sociedade sobre a perseguição histórica sofrida pela população negra, lembrando que a abolição tardia da escravidão em 1888, sem dignidade ou justiça social, deixou milhões de pessoas à margem.

Mais do que uma simples homenagem, o Mês da Consciência Negra é um chamado urgente à ação e ao enfrentamento da desigualdade, reafirmando que o racismo não é um problema individual, mas sim estrutural com reflexos em cada pessoa. É neste período simbólico que a luta antirracista ganha maior visibilidade, reforçando a urgência de políticas de reparação histórica e de justiça social. Portanto, o debate deve ser permanente, exigindo a transformação das realidades em que o racismo ainda define oportunidades, renda e representatividade no mundo do trabalho.

Racismo no mundo do trabalho

Neste momento em que a luta antirracista ganha ainda mais visibilidade, o movimento sindical reforça a necessidade de um debate permanente e estruturado sobre o racismo no mundo do trabalho. É preciso ir além das homenagens e transformar a indignação em ações concretas. Os números apresentados pelos estudos do movimento sindical e do Dieese escancaram que o racismo não é uma falha individual, mas sim um problema estrutural que define oportunidades, renda e, tragicamente, até mesmo o direito à vida no Brasil.

O Retrato Nacional da Desigualdade no Trabalho

A herança da escravidão, abolida tardiamente em 1888, deixou milhões de pessoas negras “jogadas à própria sorte”, sem proteção social ou dignidade, e a discriminação e as desigualdades persistem até hoje. Esse cenário histórico se reflete brutalmente no mercado de trabalho.

O impacto é ainda mais severo quando combinamos raça e gênero. Dados indicam que as mulheres negras são as mais afetadas pelas desigualdades salariais e pela falta de oportunidades. Elas sustentam uma parte significativa dos lares brasileiros — cerca de 30% de todos os domicílios (24 milhões de casas) são chefiados por mulheres negras — mas enfrentam o mercado mais hostil.

A taxa de desocupação entre mulheres negras, por exemplo, atinge 8%, o dobro da registrada entre homens brancos. E, mesmo quando empregadas, a desigualdade salarial se aprofunda. O rendimento médio das mulheres negras é, em média, 53% menor que o dos homens brancos. Anualmente, essa diferença representa R$ 30.800 a menos. Mesmo com maior escolaridade, essa disparidade se mantém, chegando a R$ 58 mil anuais entre aqueles com ensino superior.

Além disso, a precariedade salarial atinge a base: metade das mulheres negras (49%) ganha no máximo um salário mínimo. A informalidade é a realidade para quase quatro em cada dez trabalhadoras negras (39%), reduzindo drasticamente seus direitos e proteção social.

A exclusão também se manifesta nos cargos de gestão. Enquanto um em cada 17 homens brancos ocupa posições de direção ou gerência, apenas uma em cada 46 mulheres negras consegue alcançar esses postos, revelando a dupla discriminação de raça e gênero.

O racismo estrutural extrapola o ambiente corporativo e se manifesta de forma brutal na violência. A juventude negra representa 79% das vítimas de homicídios registrados em 2024, e no país, a resistência é urgente e necessária, pois a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado.

O Recorte do Sistema Bancário: A Concentração nas Bases

O sistema financeiro, apesar de sua importância, precisa urgentemente confrontar a sua histórica desigualdade interna. A sub-representação da população negra em cargos de liderança e o preconceito velado ainda são realidades dentro dos bancos.

É fato que a presença negra ainda está concentrada nas bases dos bancos, e isso não é aceitável. Como destacado pelo movimento sindical, é imperativo que o sistema financeiro assuma seu papel social, garantindo que o acesso a oportunidades e a ascensão profissional sejam tão democráticos quanto o lucro deve ser compartilhado entre todos os trabalhadores.

A Agenda de Luta Antirracista da Categoria Bancária

A categoria bancária, por meio do movimento sindical, reafirma seu compromisso com a luta antirracista e a promoção da igualdade de oportunidades. O VIII Fórum Nacional pela Visibilidade Negra no Sistema Financeiro, realizado em Fortaleza, consolidou um importante acúmulo de propostas que visam transformar a realidade dentro e fora dos bancos, que contou com a participação das diretoras Dayane Pereira e Mayara Siqueira, do nosso sindicato, e de Jaqueline Oliveira, da FETEC-CUT/SP.

A Carta de Fortaleza, aprovada por unanimidade no Fórum, estabelece uma agenda nacional que será levada às minutas de reivindicações da categoria, com desdobramento na Campanha 2026 e garantindo que a luta por igualdade racial se traduza em conquistas na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) dos bancários.

Entre as ações objetivas e concretas propostas, destacam-se:

  • Acompanhar e monitorar a inserção e a ascensão de pessoas negras no sistema financeiro, bem como no próprio movimento sindical.
  • Criar e fortalecer Coletivos de Combate ao Racismo em federações e sindicatos.
  • Construir protocolos antirracistas que incluam amparo psicológico e jurídico às vítimas de racismo no ambiente de trabalho.
  • Incluir os trabalhadores terceirizados nas ações e debates sobre racismo.
  • Realizar formações com temática racial, em parceria com a Secretaria de Formação Sindical.
  • Promover atos e manifestações com o slogan: “Vamos abolir a discriminação e promover a inclusão, por mais contratação de negros e negras nos bancos”.

O Fórum cumpriu seu papel ao unir formação, mobilização e encaminhamentos práticos. Saímos deste debate com a consciência de que a luta contra o racismo precisa ser permanente e que o movimento sindical reforça a exigência de políticas reais de inclusão, formação e ascensão profissional.

A Carta de Fortaleza é um instrumento poderoso que transforma análise e indignação em compromisso. É através destas políticas que devemos transformar o sistema financeiro e, consequentemente, contribuir para transformar a sociedade, construindo um país mais igualitário. Afinal, falar de visibilidade negra é falar de dignidade, oportunidades reais e justiça social. A luta continua.

Com informações da CUT Brasil e Contraf-CUT

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