No Brasil, todos os dias cerca de 32 pessoas dão fim a própria vida. O número corresponde a uma morte a cada 45 minutos.
O “Setembro Amarelo” é a campanha que marca o mês dedicado à prevenção ao suicídio. No Brasil, ela é uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), da Associação Brasileira de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina. Neste ano, o tema da campanha é “Agir salva vidas”.
Desde 2003, o dia 10 de setembro é considerado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. A data foi criada pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e pela Organização Mundial da Saúde para chamar a atenção de governos e da sociedade civil para a importância do assunto.
No Brasil, o CVV faz um trabalho pioneiro na área de prevenção ao suicídio desde 1962, com a ajuda de cerca de 3 mil voluntários que trabalham atendendo mais de 10 mil ligações diárias.
No Brasil, todos os dias cerca de 32 pessoas dão fim a própria vida. O número corresponde a uma morte a cada 45 minutos.
“As pessoas que são impactadas são consideradas pessoas de risco porque são sobreviventes de um suicídio. Elas precisam de ajuda também porque costumam relatar sentimento de culpa por não ter percebido os sinais”, explicou Carlos Correia, voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV) há 27 anos em entrevista ao podcast do Bem Estar.
É preciso falar sobre suicídio
Apesar dos mitos envolvendo o tema, a prevenção ao suicídio avança. Na década de 1980, um estudo nos EUA afirmavam que essas mortes poderiam ocorrer por imitação. E esse trabalho reforçou a ideia de que “não podemos falar sobre o assunto”. Mais de 30 anos depois, a Organização Mundial da Saúde vai na direção contrária, dizendo que, sim, precisamos conversar sobre o suicídio.
Os especialistas na área alerta que “Não é proibido falar, só não podemos falar de forma errada”. É errado glamourizar ou tornar herói quem tirou a própria vida, assim como jamais se deve ensinar ou divulgar técnicas.
Depressão, álcool e drogas
Falar de suicídio, na maioria das vezes, é falar de depressão. Falar de depressão, no entanto, não necessariamente é falar de suicídio.
Referência na área, um estudo dos cientistas José Manoel Bertolote e Alexandra Fleischmann publicado há mais de 15 anos no periódico científico “World Psychiatry”, do Associação Mundial de Psiquiatria, até hoje é citado por especialistas. Os pesquisadores analisaram os dados de 15 mil pessoas que se mataram em todo o mundo, entre 1959 e 2001.
A conclusão: o maior percentual dos casos estava ligado à depressão (35,8%) e, em segundo lugar, estavam os transtornos decorrentes do abuso de substâncias lícitas, como o álcool e o cigarro, e também das ilícitas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem uma cartilha com recomendações para a prevenção do suicídio. Nela, são apontadas 15 causas frequentes que influenciam na retirada da própria vida, como o uso de álcool e drogas, perda ou luto e outros transtornos mentais, como a esquizofrenia.
Mais comum entre homens
A diferença [de taxas] entre os gêneros é geralmente atribuída a maior agressividade, maior intenção de morrer e uso de meios mais letais entre os homens.
Uma pesquisa de uma universidade do Canadá, de 2008, encontrou a associação da mortalidade por suicídio com a tendência de expor sentimentos. A taxa era menor nas regiões onde os homens eram mais propensos a falar sobre o que sentiam.
OMS afirma que “as tentativas de suicídio de adolescentes estão muitas vezes associadas a experiências de vida humilhantes, tais como fracasso na escola ou no trabalho ou conflitos interpessoais com um parceiro romântico.”
Como salvar alguém?
Os familiares e amigos devem, sobretudo, se dispor a se aproximar de alguém que demonstra estar sofrendo ou que apresenta mudanças acentuadas e bruscas do comportamento. É preciso estar disposto a ouvir e, se não se sentir capaz de lidar com o problema apresentado, ir junto em busca de quem possa fazê-lo mais adequadamente, como um médico, enfermeiro, psicólogo ou até um líder religioso.
De acordo com os médicos, o ideal é que a pessoa seja encaminhada a um psiquiatra e seja medicada. E, no mundo ideal, que tenha um acompanhamento de um terapeuta e o apoio da família.
Outro fator importante a ser lembrado é que os medicamentos que posssam vir a ser receitados levam um certo tempo para surtir efeito. Por isso, os primeiros 30 dias após uma tentativa de suicídio e o início do tratamento são os que precisam de mais atenção.
Na rede pública, a indicação é procurar os Centros de Apoio Psicossocial (CAPS) do Sistema Único de Saúde (SUS). Por lá, é possível marcar uma consulta com um psiquiatra ou psicólogo. O Centro de Valorização da Vida (CVV), fundado em 1962 em São Paulo, faz um apoio emocional e preventivo do suicídio pelo número 188.
Bancários têm depressão e outros sofrimentos psíquicos
Se no Brasil o suicídio já causa mais mortes do que doenças como AIDS e alguns tipos de câncer, em algumas categorias específicas as taxas são ainda mais preocupantes. É o caso dos bancários, profissionais que foram extremamente exigidos durante a pandemia. Por isso, sindicatos e associações de empregados têm lançado campanhas para fomentar o debate na categoria, a exemplo do “Mais Saúde, Menos Metas’‘, lançado em agosto pela FETEC SP e o Seeb SP para conscientização e reivindicação por mais saúde no ambiente de trabalho.
Segundo a Contraf/CUT, as estatísticas oficiais têm demonstrado que os bancários estão cada vez mais doentes por problemas de saúde mental relacionados ao trabalho. Entre as principais causas desse adoecimento, o destaque fica para a cobrança por metas de produtividade que propicia assédio moral e outras formas de violência.
Para a entidade, novas formas de gestão e concorrência acirrada entre os bancos explicam a intensificação da cobrança por produtividade, gerando sobrecarga de trabalho e adoecimento frequente.
Mitos comuns sobre o suicídio
- ‘Quem fala, não faz’ – Não é verdade. Muitas vezes, a pessoa que diz que vai se matar não quer “chamar a atenção”, mas apenas dar um último sinal para pedir ajuda. Por isso, os especialistas pedem que um aviso de suicídio seja levado a sério.
- ‘Não se deve perguntar se a pessoa vai se matar’ – É importante, caso a pessoa esteja com sintomas da depressão, ter uma conversa para entender o que se passa e ajudar. Não tocar no assunto só piora a situação.
- ‘Só os depressivos clássicos se matam’ – Não. Existe o depressivo mais conhecido, aquele que fica deitado na cama e não consegue levantar. Mas outras reações podem ser previsões de um comportamento suicida, como alta agressividade e nível extremo de impulsividade. Os médicos, inclusive, pedem para a família ficar atenta ao momento em que um depressivo sem tratamento diz estar bem: muitas vezes ele pode já ter decidido se matar e tem o assunto como resolvido.
- ‘Quando a pessoa tenta uma vez, tenta sempre’ – A maior parte dos pacientes que levam a sério o tratamento com medicamentos e terapia não chegam a tentar se matar uma segunda vez. O importante é buscar a ajuda.
Como ajudar?
“Precisamos escutar, deixar a pessoa falar com calma, sem julgar. Se interessar pelo impacto que está acontecendo com essa pessoa e ter empatia. Isso vai fazer ela gastar os sentimentos. Depois disso, levá-la até um profissional”, explica Piasentim.
As pessoas também devem evitar algumas abordagens. “Não fale que a vida vale a pena, que a vida é bonita, que há sentido em tudo ou que a pessoa não tem fé. Isso não vai ajudar. Não estimule a se distrair ou ocupar a cabeça. Isso acaba inviabilizando o sofrimento”, diz ela. “Cada um sofre de um jeito, então é a própria pessoa que tem que reconhecer o que ela está falando e que tem que buscar suas próprias vias para resolver. Apenas escute”.
CONFIRA VÍDEO ESPECÍFICO DO CVV (CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA) SOBRE COMO AJUDAR
Como surgiu o Setembro Amarelo?
Não foi de uma só vez que o mês de setembro virou um marco no ano para falar de saúde mental. Tudo começou com o suicídio de Mike Emme, de 17 anos, em 1994. Ele era um jovem alegre e dono de um carro antigo que pintou de amarelo. Nem seus amigos, nem sua família esperavam que ele tirasse sua própria vida. Em seu velório, seus conhecidos fizeram uma cesta com fitas amarelas e mensagens que chamavam outros a pedir ajuda caso sentissem necessário.
Assim, a cor ficou associada à solidariedade com as pessoas que precisavam de ajuda e tinham pensamentos suicidas.
Desde 2003, o dia 10 de setembro foi escolhido como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Já no no Brasil, a campanha começou a tomar forma no ano de 2015. Dessa forma, anualmente são iluminados de amarelo símbolos e espaços públicos para gerar a reflexão sobre o tema.
fontes: FETEC SP/ G1 / Reconta Aí / Carta Capital / CVV
