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Mulheres protestam contra PEC que proíbe aborto

Organizadas pela Marcha Mundial das Mulheres, Povo sem Medo e Frente Feminista de Esquerda, elas repudiam proposta que proíbe a interrupção de gravidez até mesmo para vítimas de estupro

Mulheres foram às ruas nesta segunda-feira (14) em 25 cidades para protestar contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 181, apelidada por elas de Cavalo de Troia. Aprovada em comissão especial no último dia 8, com 18 votos a favor e um contra, a proposta previa, a princípio, ampliar a licença maternidade para mães de bebês prematuros.

Só que o projeto foi modificado pelo relator Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP), passando a definir que a vida começa na concepção – daí o apelido, referindo-se à lenda do cavalo de madeira recebido como prêmio, mas que estava carregado de soldados inimigos em seu interior.

As manifestações estão sendo organizadas pela Marcha Mundial das Mulheres, Povo Sem Medo, Frente Feminista de Esquerda e diversos outros coletivos feministas.

Em Ribeirão Preto (SP), o ato foi realizado pela manhã, na Esplanada do Theatro Pedro II. Em Salvador, teve início no começo da tarde, na Praça da Piedade.

A partir das 16 horas, as manifestantes começaram a se reunir no Rio de Janeiro, em São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza, Belém, Florianópolis, Recife, Ribeirão Preto, Manaus, Brasília, Maringá, Campinas, Goiânia, Taubaté, Juiz de Fora, Uberlândia, Campo Grande, São Carlos, Maceió, Manaus e Vitória.

Hostilidade

Para a professora da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética, Débora Diniz, a criminalização do aborto reflete uma hegemonia política de raízes religiosas muito hostil à defesa dos direitos das mulheres. “Basta ver a aprovação a PEC 181. Para os deputados, antes uma mulher vítima de estupro presa, ou no cemitério, do que em um hospital decidindo legalmente interromper a gestação fruto da violência. É uma decisão cruel para a vida das mulheres reais em nome de uma concepção religiosa de uma ideia de vida”, disse.

A ameaça de retrocesso, segundo ela, é tendência mundial. “Há um fortalecimento conservador que tem conseguido atingir uma audiência ampla com um discurso acessível. O campo progressista tem falhado em fazer o mesmo.”

No entanto, conforme ela lembrou, os momentos de crise são também oportunidades de reorganização para saídas criativas. “Temos no momento uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação, e já há 17 organizações com pedidos de ingresso como amicus curiae (amigas da corte) favoráveis ao pedido. Tudo ocorreu este ano. A reação à PEC também é momento de unir forças antes não mobilizadas”, disse.

“É um bando de homens, machos, decidindo sobre os corpos das mulheres”

“É de causar indignação a todas as mulheres desse país 18 homens decidirem sobre as nossas vidas”, diz a psicóloga Rosângela Talib, coordenadora da ONG Católicas pelo Direito de Decidir, referindo-se ao fato de a PEC ter sido aprovada em comissão especial por 18 deputados homens, com o único voto contrário vindo de uma mulher, a deputada federal Erika Kokay (PT-DF). “Principalmente a gente sabendo que todas as pesquisas de opinião têm ido em direção contrária em relação a esse tema. A maioria da população tem dito que as mulheres não devem se presas e a decisão tem que ser delas, não dos parlamentares. Não faz sentido a aprovação dessa PEC”, avaliou, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual.

No final de outubro, a ONG lançou um ebook com dados de uma pesquisa feita pelo Ibope Inteligência, realizada em fevereiro. Segundo o levantamento, 64% dos brasileiros entendem que a decisão a respeito do aborto deve ser da própria mulher.

“É um bando de homens, machos, decidindo sobre os corpos das mulheres, um desrespeito total. É inconcebível que uma mulher tenha que ser obrigada a permanecer com a gravidez, se ela foi violentada e engravidou como resultado disso, e não quiser”, afirma Rosângela. “Não tem cabimento eles acharem que as mulheres são simplesmente um receptáculo.”

Em nota, a entidade também orienta sobre como organizar a resistência contra a proposta, além da presença nas ruas. “A resistência contra esse retrocesso fundamentalista e tenebroso pode ser feita de diversas formas. Pela internet, é possível participar da consulta pública feita pelo Senado Federal a respeito da PEC. No portal E-Cidadania, vote NÃO para derrubar a emenda que altera a Constituição. Clique aqui.”

fonte: Rede Brasil Atual

foto: Carta Capital

 

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